terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Pense.

[Eu escrevi o texto ontem, dia 31, mas o tempo só permitiu a postagem hoje, dia 1º. Mas espero que a mensagem consiga ser transmitida mesmo assim!]




Fim de ano significa recomeçar, acertar, planejar. O Natal chega e todo mundo resolve entrar no espírito de paz, de amor, de fraternidade. As pessoas entendem o que é perdoar, e melhor que isso, praticam o perdão. No Natal todos são iguais, todos merecem viver e não só existir. Nos últimos dias do ano surge uma energia positiva que envolve todos os corações, há uma esperança que desperta os sonhos mais impossíveis, aqueles planos mais utópicos, que aquece as almas mais congeladas pelo sofrimento. Nos últimos dias do ano não há tristeza que não consiga sorrir, nem fraqueza que não se sinta mais forte, porque nos últimos dias do ano as mágoas e as dores ficam no passado e virá novos 365 dias para tentar ser feliz outra vez. Nos últimos dias do ano tudo se torna possível, o mal se torna fraco e o bem se torna forte, a memória se torna recente e tudo que ficou pra trás já não interessa...

Mas por quê?!

É uma simples passagem de ano, uma contagem regressiva, uma volta completa da Terra em torno do Sol, a transição de um dia para outro e tudo continuará a mesma coisa. As pessoas serão as mesmas, o mundo será o mesmo, os problemas serão os mesmos e a vida continuará a mesma. Porque o fim do ano só acontece a cada 365 dias e nesse espaço de tempo a humanidade esquece de perdoar. Esquece de sonhar. Esquece de amar. E em um mês ninguém consegue recuperar o estrago de um ano inteiro. Hoje, 31 de dezembro de 2008, todos os brasileiros vão esquecer das barbáries cometidas no nosso país, esquecerão da incompetência dos nossos policias, que vitimaram muitos inocentes, esquecerão da monstruosidade de pais matando os próprios filhos, da curiosidade mórbida da população, do sensacionalismo e da falta de ética da mídia, esquecerão dos mais inúmeros casos de corrupção e falta de caráter daqueles que escolhemos para governar o nosso país, esquecerão dos crimes, assaltos, assassinatos, acidentes que aconteceram, longe ou perto de cada um, que foram expostos exaustivamente pela mídia ou simplesmente "não ocorreram" para o resto do Brasil. Hoje, o mundo vai esquecer das milhares de pessoas que morreram sem motivos, dos prisioneiros das FARC que esperam a liberdade, das crianças que esperam a vida e daqueles que já não saber mais esperar pela paz.


Tudo isso parece um discurso pessimista, talvez duro e insensível, uma vez que todos nós, depois de tantos dias e noites de luta, depois de tantas dores e quedas, depois de tantas perdas e lágrimas, temos direito ao sonho, à renovação, às alegrias e a esquecer dos problemas, mesmo que momentaneamente. Mas porque isso se restringe somente ao fim do ano? Ao começo do próximo? Dar para si a chance de se renovar deveria acontecer sempre que preciso, sonhar deveria ser um exercício diário e as dificuldades deveriam ser lições, aprendidas, e não um castigo prolongado e repetitivo. Perdoar, amar, querer ajudar, ter esperanças, lutar pelos ideais não deviam ser vontades afloradas em apenas uma época do ano, deveriam ser desejos arraigados na nossa alma e distribuídos ao mundo.

O respeito não pode ser esquecido. O amor, a alegria, a saúde e a dignidade não podem ser privilégios de alguns. O bem é contagioso, basta tê-lo em você e querer vê-lo no próximo. Há um mundo que espera por nós, que podemos agir mas ficamos parados. Há um mundo que já conjugou demais o verbo 'sonhar' e que agora precisa conjugar o verbo 'realizar'. Há um mundo com a mão estendida para nós, esperando pela chance de viver.

domingo, 7 de dezembro de 2008



"A Literatura é o retrato vivo da alma humana; é a presença do espírito na carne. Para quem, às vezes, se desespera, ela consola, mostrando que todo ser humano é igual, e que toda dor parece ser única;[...]

A moléstia é real, os sintomas são claros, a síndrome está completa: o homem continua cada vez mais incomunicável (porque deturpou o termo Comunicação), incompreendido, e /ou incompreensível, porque voltou-se para dentro e se auto-analisa continuamente, mas não troca com os outros estas experiências individuais; está "desaprendendo" a falar, usando somente o linguajar básico, essencial e os gestos. Não lê, não enriquece, não se transmite. Quem não lê, não escreve. Assim o homem do século XX, bicho de concha, criatura intransitiva, se enfurna dentro de si próprio, ilhando-se cada vez mais, minado pelas duas doenças de nosso tempo: individualismo e solidão."
[Ely Vieitez - Laboratório de Literatura, São Paulo - 1978]

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Paciência



Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede um pouco mais de alma
A vida não para

Enquanto o tempo acelera e pede pressa
Eu me recuso faço hora vou na valsa
A vida e tão rara

Enquanto todo mundo espera a cura do mal
E a loucura finge que isso tudo é normal
Eu finjo ter paciência
O mundo vai girando cada vez mais veloz
A gente espera do mundo e o mundo espera de nós

Um pouco mais de paciência
Será que é o tempo que lhe falta pra perceber
Será que temos esse tempo pra perder
E quem quer saber
A vida é tão rara (Tão rara)

Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma
Mesmo quando o corpo pede um pouco mais de alma
Eu sei, a vida não para (a vida não para não)

Será que é tempo que me falta pra perceber
Será que temos esse tempo pra perder
E quem quer saber
A vida é tão rara (tão rara)

Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede um pouco mais de alma
Eu sei,a vida não para (a vida não para não... a vida
não para)

Lenine.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Sede de Liberdade.




Sinto-me como num casulo. Sinto-me enclausurada nos limites do meu corpo, lutando para manter-me firme e lúcida como devo ser, como exigem que eu seja. Sinto-me obrigada a andar por um caminho já traçado, sinto-me exaustivamente debilitada, como se minhas pernas já não agüentassem mais o peso de minh'alma, que tão sedenta de liberdade absorve toda oportunidade que tem de se ver além das fronteiras. Densa, tão densa que chega a tornar-se um ser distinto de mim, minh'alma clama por liberdade. Transforma meu corpo num cárcere que me tortura a todo o momento, por não me dar a chance de romper os limites de mim. Transforma minha mente num turbilhão de angústias e dúvidas, uma vez que almejo romper um limite imposto por mim mesma. Meu corpo. Somente meu. Que faço para transpor esse tão natural obstáculo que ao passar dos dias se torna cada vez mais sufocante para a minha alma? Ela só quer sair, ela só quer viver...

É tudo tão paradoxal, sentir meu corpo pequeno para tamanha necessidade de liberdade e ao mesmo tempo sentir-me grande diante do mundo que me deparo, ao qual quero entregar-me como se não fosse de ninguém, como se ninguém de mim fosse. Olho para mim e não enxergo nada, senão um pedaço de carne feito gente cujos olhos transbordam de carência... Carência de vida, carência de verdade. Meus olhos são o único veículo que minh'alma encontrou para se expressar, sendo para uns apenas meios de enxergar, sendo para mim uma maneira de extraviar a dor que sinto por deles não ir além, por serem eles tudo quanto posso sentir. São meus olhos meu elo com a minha infindável e insaciável alma, que transmite seus desejos de liberdade por olhares que vão além do que se vê, percorrem aquela linha de concreto e viajam pelo que só é possível imaginar.




Chegará o dia em que serei só o que sinto. Terei, não com meus olhos, não com minhas pernas, mas sim com o meu coração, com a minh'alma, tudo aquilo que de longe quis e não pude ter. Sentirei, não na carne, não na pele, mas no âmago de mim, meus mais profundos e verdadeiros anseios. Serei livre, tão livre que levarei comigo o mundo que existe e aquele que invento para sobreviver. Não haverá fronteiras. Ultrapassá-las-ei. Chegará o dia em que tudo será pequeno para mim, em que me verei sem limites para nada, tão sem limites como o tempo. Estarei difusa à ele. Então terei a certeza de que fui somente aquilo que senti.

'Liberdade é pouco. O que eu desejo ainda não tem nome' [Clarice Lispector]

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Personagem ou autora?



Vi o sol nascer, se pôr, agora a lua reina exuberante no céu. E eu ainda permaneço absorta em meus pensamentos. Assim os dias se vão, sem que eu faça nada além do essencial para sobreviver.

Desses infinitos minutos em que contemplo a paisagem morta do meu quarto e desfruto de minha própria companhia, veio-me a mente o tempo que se esvai. O tempo que chega sorrateiramente e sem se deixar perceber, volta para o misterioso lugar de onde veio. Como perco tempo em meus devaneios. Sinto-me indescritivelmente paralisada pelo medo de viver. O que me espera ali na frente? Afinal, sou uma mera personagem de uma história já escrita ou sou autora da minha própria trama?
Se vim a esse mundo com um roteiro já escrito, estou fadada aos fatos, não posso mudá-los, só posso cumprir o papel que a mim foi incumbido. Nada depende de mim, trilho um caminho certo. Qualquer sofrimento, derrota, fracasso, estava escrito, foi porque Deus quis. Mas se eu for a autora da minha própria trama, o poder de torná-la um drama ou não seria meu. Teria comigo todas as ferramentas e possibilidades para dar a minha história o rumo que fosse melhor para mim. Escreveria o meu futuro, sendo este basicamente o reflexo do meu presente. Confesso que é mais cômodo crer que já há uma história escrita para mim e que uma força maior rege a minha vida. Posso até culpá-la pelos eventuais contratempos que ocorram, aliás, poderia a culpar por tudo que não quisesse assumir a culpa, livraria minha consciência dos erros, dos fracassos, dos comodismos, das mentiras... estaria tudo escrito, eu só haveria cumprido meu papel. Mas isso não me agrada tanto. Esse inexorável destino, permanecer nos limites de uma narrativa e ter a certeza de que nela terei que continuar. Tudo isso faz surgir em mim uma sensação de impotência, por nada poder fazer diante daquilo que me foi imposto. Diferente da sensação de liberdade que me trás a idéia de escrever diária e continuamente a minha história. Onde cada acontecimento, ruim ou bom, seria responsabilidade unicamente minha, não podendo culpar mais ninguém pelos meus desvios. No entanto, teria a magnífica chance de deparar-me com uma folha em branco e reescrever a minha história, reinventando o presente, reconstruindo o futuro. Teria o peso do meu sucesso ou do meu fracasso.



Fui longe. O sol já dá os seus primeiros indícios de vida na imensidão do céu. Num azul claro, tão claro a doer na vista. Mais um dia que se inicia e eu não me sinto mais imóvel pelo medo de viver. Sinto agora uma amável dúvida, a dúvida de não saber se serei na minha vida a personagem ou a autora.

sábado, 13 de setembro de 2008

"Ai de mim que sou romântica!"

"Ai de mim que sou romântica!". É a única coisa que consigo declarar agora. Último capítulo de novela é sempre assim, entro numa depressão pós final feliz do casal apaixonado que superou todos os obstáculos e enfrentou todos que estavam no caminho para viverem seu grande amor e claro, no final, conseguiram. Me pego com os olhos cheios de lágrimas na cena final, ao ver tanto amor transbordar num beijo ao som da música tema. Percebo meu coração se comprimindo cada vez mais por uma vontade incalculável de acreditar que tanto amor pode existir sim, tão verdadeiro quanto o diretor da trama aconselha que seja interpretado. Meus olhos fixados na televisão não significam que presto tanta atenção na história que apresenta seu desfecho, afinal, desde o primeiro capítulo já sabia que terminaria exatamente assim, mas demonstra que viajo no meu mundo particular e no meu insaciável sonho de viver um amor tão fantástico e com um final tão feliz. Mas aí o intervalo surge, a propaganda política aparece com os candidatos se atacando bestamente ao invés de expor suas propostas, como se me dissessem: "Larissa, acorda criatura, você não faz parte dessa novela!" e eu suspiro intimamente, mais uma vez, "ai de mim que sou romântica!".

Talvez seja até cômico porque, analisando bem, é tanto amor dentro de uma criatura só que chega a ser inexplicável. É como se eu amasse tudo, ou talvez não amasse nada, amasse somente o amor. Pode até ser patético, mas às vezes penso que amo alguém que nunca veio, que ainda não chegou e, sendo uma pessimista, talvez nem chegue. Mas não é assim que gosto de pensar. Prefiro achar que realmente amo tudo, mesmo que seja sem nenhum fundamento. Simplesmente amar cada sinal de vida, cada indício de amor... e pensando assim, entro novamente num suspiro, lamentando a minha sorte de ainda não saber o que me espera logo ali. Um amor de novela? Ou outro amor que também terminará? Ao som de uma música romântica meus pensamentos saem do meu domínio e fazem viagens por histórias que meu coração constrói e minha alma se embevece. Daí meu celular toca, me lembrando do remédio que preciso tomar. Infelizmente, tanto amor ainda não cura as crises que me acompanham. E novamente, volto a realidade, ainda desligada desse mundo que não condiz com o que transborda de mim... amor, tanto amor.

A novela acaba mas ficam comigo todas as ânsias de uma romântica. Vou olhar o céu e as estrelas, sonhar mais um pouco com o que nunca se saberá se virá. Enquanto tantas dúvidas povoam meus pensamentos e tanto amor faz brilhar meus olhos, percebo que esse sentimento não faz parte de mim, mas que eu faço parte dele. Como se ele fosse a minha pessoa e eu apenas um pequeno detalhe de tão grande e complexo universo sem explicação, sem lógica e sem fim. Sinto a maneira agradável com que esse sentimento me sufoca, fazendo-me amar o que não deveria ser amado, amar o que não mais merece meu amor, amar o que não existe, amar o que ainda vai existir. Acabo concluindo que meu mundo é mais agradável do que este em que vivo, onde o amor é um mero acaso do destino, uma sorte ou um azar, algo que pode te fazer sorrir e logo depois te maltratar. No meu mundo o amor é o protagonista, a base da verdade e da realização, é o tudo o que sou, tudo o que posso ser, tudo o que tenho a oferecer... talvez a coisa mais abstrata que exista e a mais concreta que posso dar a qualquer um.
Mas tudo é apenas um mundo de amor que se guarda dentro de um coração, que se mostra no brilho de um olhar sem rumo, que fala por um suspiro inocente.. "ai de mim que sou romântica!".

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Passado, união, força, Futuro.



Uma matéria sobre a Revolução de 1968 me deixou pensativa por um bom tempo. Cada linha escrita me dava um misto de encantamento, admiração e inveja. Sim, uma inveja saudável, uma vontade incrível de ter feito parte daquele tempo. Duas semanas depois da leitura ainda permaneço envolta na magia daquele 'ano que não terminou'.


Os jovens de 1968 não estavam satisfeitos com a sociedade em que viviam, com guerras, repressões, preconceitos. Um mundo de poucos e onde poucos tinham oportunidade de ser. Então eles simplesmente uniram suas forças e foram atrás dos seus ideais. Utopias deixaram de ser utopias e muitas se tornaram reais. As mulheres lutaram pela sua liberdade sexual, adquiriram respeito e importância na sociedade, os negros e os homossexuais também lutaram pelo seu espaço e conseguiram uma compreensão bem maior do que tinham. Uma onda de revolução e determinação varreu o mundo, fazendo com que todos mergulhassem e emergissem numa sociedade muito melhor para si e para os que viriam. Foi para isso que eles lutaram, saíram às ruas gritando por mudanças e direitos. Talvez não medissem a dimensão dos seus atos, a herança que deixariam para a história mundial, os ecos que suas vozes fariam durantes décadas. A verdade é que a perseverança com a qual buscaram seus sonhos determinou muitos dos privilégios que temos hoje e muitos dos quais não damos valor. Um exemplo é a liberdade de expressão. Há quarenta anos tê-la era magnífico! E hoje mal sabemos o poder que temos em nossa boca. Hoje temos também, além da liberdade de falar, a liberdade para agir e pensar como quisermos. Absolutamente normal, incontestável e irrevogável, né? É, mas eles também não podiam pensar e agir como bem entendessem e se o fizessem teriam que arcar com duras conseqüências. Devia ser extremamente ruim viver em um mundo ditatorial e opressor como esse, compreende-se a rebelião de tantos jovens em busca de um futuro. Mas além de todas essas heranças há uma implícita nesse contexto inusitado.


Há quarenta anos uma multidão saia às ruas com cartazes, armas, ou com a própria voz gritando pelos seus direitos, pelos seus sonhos, por um mundo melhor. Eles pensavam em si, é claro, mas olhavam adiante porque sabiam que aquelas atitudes imediatistas e rebeldes podiam transformar não só o presente, mas o futuro das próximas gerações. Eles tinham a força, se uniram e lutaram sem hesitar. Porque nós permanecemos tão apáticos a tudo que acontece ao nosso redor? Porque nos tornamos tão egoístas ao ponto de restringir a nossa força à realização dos nossos próprios sonhos? Porque ignoramos os problemas do mundo, que nos atingem diretamente, simplesmente por estarmos tão acomodados? Porque não somos capazes de renunciar em prol do outro? Porque eu estou sentando aqui, escrevendo para você sentado aí, ao invés de irmos fazer alguma coisa por aquela criança que vai passar mais uma noite na rua? Eu tenho minha comida garantida, minha cama quente me esperando, o aconchego do meu lar e o carinho da minha família. Mas há quem está catando comida no lixo, quem está se escondendo das balas perdidas. Eu tenho força e vontade de mudar o mundo e acredito que podemos mudá-lo, para mim, para todos e para os que virão. E você?





" Sonho que se sonha sozinho, é só um sonho. Sonho que se sonho junto, é realidade"

sábado, 23 de agosto de 2008

Palavras.

Foram tantos sonhos desfeitos
Tantos caminhos mal traçados
Nessas linhas eu escrevo um destino incerto
Falo do meu coração mil vezes quebrado

São rimas vazias que ecoam sonoras
nessa alma perdida em um mundo perdido
Palavras soltas se encaixam sem jeito
Às vezes compreensíveis, às vezes sem sentido.

Repentinamente as palavras perdem o valor
Voam, desaparecem no vento
Fazem tudo parecer mentira, irreal
Tornam a realidade fugaz, um tormento.

A exclamação sumiu no silêncio profundo
Por onde andam aqueles sorrisos que espalhei?
Conjugados num passado distante de tudo
E eu mergulhada em interrogações por aqui fiquei.

O dia chega na esperança de um novo começo
a noite anúncia que nada mudou
Eu vejo que palavras não mudam o que vejo
mas o ponto final mostra que tudo terminou.

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Manifesto do Orgulho Feminino - a resposta






Ah meu bem, eu sou mulher e que mulher!
Enquanto você permanece com essa sua brutalidade eu fico com a minha sensibilidade
Que me rende incríveis conquistas e infinitas possibilidades
Mas não vá achando que por ser sensível eu deixo de ser forte
Abrigo uma fortaleza dentro dessa figura frágil que aparento ser
Sou mulher de curvas cruéis, de olhar penetrante e coração mole
Choro no final do filme sim, e daí?
Posso ir mais longe do que você consegue ir.
Sabe porque? Por que sou mulher, meu bem, e que mulher!
Tenho tensão pré menstrual e mato o primeiro que me aparecer
Dependendo do dia choro com a primeira palavra que me disserem
A verdade é que os hormônios ficam a flor da pele.
Os meus rituais de beleza tenho como sagrados, faço-os todo santo dia
E se você não tiver paciência de esperar, começar a reclamar, vai ser grosso lá com a sua tia!
Por que comigo é assim, ou trata com delicadeza ou vai cantar em outra freguezia.
Pra mim os detalhes fazem toda diferença, sou perfeccionista e atenciosa
Presto atenção em tudo, sou extremamente cuidadosa.
Já você, hein? Deus te deu esses olhos pra ver e reparar em quê?
Ok, prefiro não saber.
Ah meu bem, eu sou mulher, e que mulher!
Eu tenho o dom da vida e por sinal, foi de uma mulher que você nasceu.
Como é que você consegue arrotar, coçar os testículos na nossa frente?!
Ah meu amor, não custa nada ser um pouco mais decente!
Conseguiu reparar na essência da mulher?
Um ser paradoxal, de uma beleza natural, de um esmero crescente.
Ah meu bem, eu sou uma mulher, e que mulher!

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Brincar de ser igual, brincar de mentir.

Eu decidi que agora eu vou brincar de viver. Brincar de viver por que todo mundo brinca de amar, brinca de ser amigo, brinca de casar, brinca de ajudar, brinca de ser político, de ser médico, de ser advogado. E como toda brincadeira, só se leva a sério quando se está afim, caso contrário, toda brincadeira é sempre uma brincadeira. Quando a gente cansa de brincar, a gente deixa o jogo de lado e sai pra descansar. Entendeu?

Agora eu decidi também que vou confiar somente nos meus amigos imaginários. Ninguém pode ser mais confiavél do que eles. Eles jamais me trairão, muito menos contarão meus segredos por aí e nem falarão coisas que eu não quero ouvir. Meus amigos imaginários estarão comigo em todos os momentos, serão quem eu quiser, no momento em que eu bem entender. Meus amigos imaginários me mostrarão as verdades que EU quero ver.

De hoje em diante eu vou pensar só em mim, vou me preocupar somente em realizar meus desejos e satisfazer o meu ego. Vou me preocupar com a minha aparência e com as minhas coisas materias e não vou dividi-las com ninguém, diga-se de passagem, por que se alguém quiser alguma coisa que eu tenha, que vá comprar! Eu só vou brincar de ser amigo de alguém se esse alguém tiver alguma coisa a me oferecer e quando esse alguém me oferecer o que eu quero, eu o deixo de lado, ou melhor, páro de brincar de ser amigo da criatura em questão. Muito simples. Vou comprar milhares de roupas de marca, sapatos e mais sapatos carissímos, jóias e mais jóias, ir ao salão de beleza todos os dias e comprar, no minímo, entenda, no minímo, um carro por ano!

A partir de agora eu também vou julgar todo mundo pela aparência e se a pessoa não for bonita eu vou abominá-la, exclui-la do meu círculo social. Antes de brincar de me relacionar com alguém vou checar o seu status social, a sua conta bancária e se for tudo de alta qualidade, farei um bom investimento. Pode ser a curto ou alongo prazo, mas jamais será eterno, por que óbviamente, nenhuma brincadeira dura para sempre.

Ah! É claro que eu vou, daqui pra frente, maltratar todos os desprovidos de dinheiro, posição social, beleza, inteligência, enfim, aqueles pobres coitados que Deus mandou ao mundo exatamente para isso. Ou você acha que essas criaturas existem para nós, exímios mortais, ajudarmos?! Me poupe, né? Eles vieram para nos servir, isso está claro desde os primórdios da humanidade!

Em resumo, é isso. Decidi que seguirei a risca o modo de viver de toda a humanidade. Serei egoísta, fútil, falsa, materialista. Afinal, é muito ruim você se sentir excluída da sociedade. Pensei muito e vi que era preciso tomar uma atitude para me incluir no mundo de hoje e que para isso era necessário algumas mudanças, aí estão todas elas. Decidi também que eu vou parar de mentir, é muito feio. Por que na verdade eu odeio, execro todas as pessoas que agem assim, levando a vida e as pessoas com essa futilidade, brincando com os sentimentos de todos e olhando para o próprio umbigo, como se os seus interesses e o seu ego estivesse acima de tudo e de todos. Mesmo sendo diferente de quase todos, prefiro continuar assim e em paz com a minha consciência, do que ser mais uma a brincar com o que deveria ser levado a sério.

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Chega a ser engraçado a capacidade que temos de achar que a vida dura para sempre. As coisas ruins existem sim, acontecem sim, mas conosco, nunca! Aquele assalto à mão armada ali na esquina da sua casa poderia ter sido com você, mas graças a Deus ou a qualquer força superior você preferiu ir ao banheiro antes de sair de casa. Aquele avião que caiu era o que você deveria ter embarcado, mas perdeu a hora por que a festa da noite anterior foi além do que imaginava. Você nunca vai acabar com o seu namorado, ele jamais vai te trair, isso só acontece com as suas amigas. Ou até mesmo aquela sua vizinha que estava com uma gripe terrível e que tossiu na sua cara não te passou nenhum vírus, por que você toma vitamina C todos os dias... ou quando alguém gripado chega perto de você... ou quando alguém gripado tosse na sua cara. É sempre assim, ao seu redor, tudo é possível, dentro das suas fronteiras só pode acontecer o que é do seu máximo interesse. Será?

Eu digo isso por que perdi uma pessoa que passou a vida inteira fumando, completamente ciente dos danos que aquele maldito cigarro lhe trazia, mas para ela as consequências daquele prazer jamais chegariam. O que mais me impressionava é que ela e mais duas pessoas da minha família também eram viciadas em fumar e foram, uma por uma, caindo nas provações dolorosas e digo até, irreversíveis do cigarro. Mas a desculpa era sempre a mesma: " foi com ele. Comigo isso não acontece". Meu padrinho e minha tia viram-se obrigados a parar de fumar. Foram obrigados a escolher entre a vida e o vício e optaram pela vida, claro. Minha outra tia mais tarde, viu-se na mesma situação, e também optou pela vida. Mas optou pela vida por que sem vida era impossível sustentar um vicío. E mesmo tendo conseguido uma segunda chance de viver, continuou trilhando o mesmo caminho, achando que nada acontece duas vezes com a mesma pessoa e que como ela já havia sentido na pele o que aquelas tragadas eram capazes de fazer, isso não tornaria a acontecer. Grande engano.

Foi preciso perder vida dia àpos dia para que ela percebesse que todos nós estamos passíveis a tudo, desde que não cuidemos direito do nosso maior bem, a vida. Ela foi tornando-se cada vez mais incapaz de 'ser' sozinha, tornou-se depende para quase tudo, tornou-se mais um daqueles personagens ilustrativos de caixa de cigarro. Aqueles que todos olham, se espantam, mas que sempre pensam: " isso nunca vai acontecer comigo". Na verdade, também nunca pensei que isso pudesse acontecer com alguém tão próximo a mim.

A verdade é que ninguém é imponente o bastante para afastar de si os males que enchem esse mundo. Somos todos feitos da mesma matéria, viemos do mesmo lugar e para lá também voltaremos. A nós foi concebido a dom da vida e proporcionado a oportunidade de viver. Cabe somente a cada um de nós mensurar a importancia de existir e cuidar dessa existência como seu maior presente.

sexta-feira, 25 de julho de 2008


Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos. - Fernando Pessoa

sábado, 19 de julho de 2008

Polícia igual a proteção?



De quem você tem mais medo agora?

segunda-feira, 30 de junho de 2008

Carta à Vida.

Fortaleza, 01 de julho de 2008.

Querida, tão querida Vida!
Antes de mais nada eu quero te agradecer. Agradecer por me fazer existir. E não pense que eu vou falar mau de você, que vou reclamar porque você é difícil ou que você me faz sofrer de vez enquando. Eu estou aqui para te contar de tudo o que você me faz aprender, todos os dias.

Lembra quando você levou meu pai? Aquele dia foi terrível. Bem, na verdade não exatamente aquele dia, até mesmo porque naquela época eu nem sabia o que era morrer.. ou deixar de viver.. ou viver em outro lugar. A dor mesmo veio só depois, quando eu percebi que nunca mais o veria. Nesse dia sim, eu confesso que senti muita raiva de você! Durante muito tempo permaneci inconformada com tamanha maldade que você tinha feito comigo e com os meus irmãos, chorei muito, sofri muito e só pude entender seus motivos depois. Mesmo com essa saudade infinita que sinto, essa dor que ainda continua em meu peito, sei que tudo isso aconteceu para me fortalecer. É, vou confessar que essa não foi a maneira mais suave de me fazer crescer, mas talvez tenha sido a única maneira para me fazer estar onde estou e ser quem eu sou, né? Por isso te agradeço e peço desculpas por todas as vezes que te ofendi, não foram poucas, eu sei, mas foram sempre da boca pra fora. E por favor, onde meu pai estiver, cuida bem dele e não deixe que ele esqueça o quanto eu o amo e sinto sua falta!

Agora me responda, como você consegue ser tão perfeita? Sim, perfeita! Qualquer um que parar para pensar vai perceber o quão extraordinária você é! Eu lembro que no início me arrependi bastante em ter concordado em mudar para Fortaleza, mas se isso não tivesse acontecido, onde eu estaria agora? Com quem eu estaria agora? Como eu seria agora? Bom, nem me interessa pensar nisso! O fato é que vir para cá me proporcionou momentos que eu jamais trocaria, com pessoas que eu jamais encontraria igual!

E aquele primeiro namorado que você me mandou?! Simplesmente perfeito! Tudo foi um sonho até o dia em que ele acabou comigo. Você viu, eu sofri como nunca e como ninguém! Queria morrer, desaparecer, para mim só ele podia me fazer feliz. Lembra por quanto tempo eu chorei? Ah, no minímo dois meses. Lembra que até doente eu fiquei? Ai,ai. Mau sabia eu que tanto sofrimento me traria tanta alegria. Sim, porque a volta por cima foi espetácular, uma sensação que eu nunca tive igual! E aquelas lágrimas, aquela dor sufocante se transformaram em força e alegria. Preciso te agradecer muito por ter me feito crescer e amadurecer tanto e por mais na frente ter colocado outro namorado, com o qual eu cresci eamadureci mais. Também acabou, mas a perspectiva de um novo começo e um novo amor é indescritível!

O que eu percebi é que você não faz nada por fazer. Tudo tem uma lógica, um motivo e uma consequência. Eu percebi que você nos proporciona todas as armas para lutarmos e vencermos e que sempre está colaborando para que o melhor nos aconteça. Hoje eu sei que o sofrimento existe com o único motivo de nos fazer mais fortes, de nos fazer crescer. Eu sei que qualquer eventual dor que eu sinta, lá na frente será uma alegria. Obrigada pela oportunidade magnífica que você me dá todos os dias, a oportunidade de viver. Viver é uma dádiva! Agradeço as manhãs de sol e de chuva, as tardes agitadas e tranquilas, os domingos chatos e legais, as provas boas e ruins, as lágrimas e sorrisos, ao sucesso e a derrota, a alegria e a tristeza, ao céu, ao mar, ao vento. Agradeço por cada um dos meus amigos, estejam eles próximos ou distantes. Agradeço a todas as formas que você assume. Ah, vida! Eu te agradeço pela vida que você é para mim!

Ah, me responda, será que eu sou louca por ser feliz assim? Por apesar de tantas dificuldades achar que tudo vai dar certo e que tudo tem jeito? Por rir loucamente, até perder a fôlego, por amar tudo a minha volta, por não guardar raiva de ninguém, por querer que todos sejam felizes e por tentar fazer todo mundo sorrir? É, ok, também acho que sim! Mas... posso te pedir uma coisinha? Faz todo mundo ser louco que nem eu! E não me deixa esquecer de honrar meu nome! É assim que eu quero viver, é claro, se você me permitir.


Enfim, por enquanto é só isso. Talvez eu ainda entre em contato com você outras vezes! Não esqueça de me mandar aquela dose de loucura diária, aqueles momentos de reflexão, aqueles sorrisos e risos incontroláveis e aquela pitada de surpresa é sempre boa! Ah, se puder mandar um barril de amor e carinho era bem legal e sem querer abusar da sua boa vontade, me manda também o dom de fazer todos ao meu redor sorrirem muito e serem felizes, tá?! Muitissímo obrigada!

Atenciosamente, sua mais fiel discípula,
Larissa Jorge.








segunda-feira, 16 de junho de 2008

Ops!

Voltando pra casa...

Valdo: minha filha, você nem acredita o sufoco que passei hoje!

Eu: o que que aconteceu??!

Valdo: quando eu tava voltando da escola passei por uma rua que tava tendo blitz. Aí tive que parar, claro.

Eu: eeeita!

Valdo: então, aí o guarda me parou, pediu os documentos, tudo ok. Revistou o carro por fora, tudo ok. Foi ver o carro por dentro e viu que o relógio tava com problema.

Eu: nossa, e aí?? A multa foi muito alta??

Valdo: foi a mesma pergunta que eu fiz pro cabra. Aí ele começou com uma conversa que gostava muito de ajudar os outros mas também precisava que os outros ajudassem também.

Eu: Iiiiiiiih! Lááá vem chumbo grosso né!

Valdo: num é, o cabra queria dinheiro pra não me multar!

Eu: Mas é muito pra cabeça! É incrivel como as pessoas se corrompem por dinheiro né? Como elas vendem os valores morais, a dignidade, o caráter. Olha, eu não sei o que é pior, se é aquele que dá o dinheiro ou aquele que pede. É por isso que o Brasil não anda mano. Um baaando de filho da mãe, sem um pingo de honestidade! E a gente fica calado, ninguém fala nada! Aposto que um monte de idiota que passou por esse cara deu o dinheiro pra não ser multado. Vender a dignidade por tão pouco, é um absurdo! Se eu pegasse um cara que me fizesse uma proposta dessa eu denúnciava na hora! Ai, eu me revolto com isso, sabia? Não me conformo com essas pessoas, que tem a oportunidade de trabalhar honestamente mas quer ganhar dinheiro fácil, não me conformo com quem tá errado e quer cobrir o erro com outro erro! Dá vontade de mandar todo mundo pro infeeerno!

Valdo: É, eu dei 20 reais pra ele não me multar.

Eu: Ah, ops. Mas na boa, não retiro uma palavra do que disse! Rum ¬¬



obs: Valdo não é o nome do cara que dirige a Kombe, foi só pra preservar sua imagem xD

domingo, 8 de junho de 2008

Ah, que dia chato!

Ah, que dia chato! Domingo é o dia mais chato da semana, consegue ser mais chato do que a segunda. Domingo é monotono, é melancolico, a rua não tem movimento, até o vento some no domingo. Os pássaros não cantam, o sol brilha tímido e quando brilha!
O pior do domingo é quando começa a entardecer. O céu vai escurecendo, anúnciando o fim dos dois únicos dias de descanso e o inicio de mais uma semana longa e cansativa. Ah, que dia chato! Até o livro que eu lia acabou no sábado, só pro meu domingo ficar mais chato ainda. Ninguém pra conversar na internet, nada pra assistir na tv. As músicas que tocam no rádio são as mesmas todos os domingos, só pra eu cansar de ouvi-las. A minha cachorra não late, minhas gatas não miam, dormem o dia inteiro. A casa fica num silêncio total, nem o telefone toca! Até aquelas crianças que adoram gritar de segunda à sexta bem na hora em que vou dormir resolvem ficar quietas no domingo.
O domingo tira minha produtividade [olha que texto horrível que eu tô escrevendo!], tira minha fome, meu sono, minha alegria. Domingo é um dia feio. É um dia chato. Deve ser por isso que o Faustão passa no domingo, o Gugu, o Silvio Santos. Tudo que é inútil e chato acontece no domingo. Ah, que dia chato!

terça-feira, 27 de maio de 2008

Amor e Respeito.

Eu estava voltando para casa no transporte escolar, cansada, observando as pessoas que andavam na rua. O rádio estava ligado, mas minha atenção não se dirigia à ele, até o locutor iniciar um assunto que, imediatamente, atraiu minha atenção completamente. Ele falava sobre a enorme quantidade de pessoas que vão hoje à Parada Gay. A intonação dele foi clara: era mais uma das pessoas que não admitia esse tipo de evento e que se revoltava por perceber o crescente público que a festa adquiria.

Momentos depois ele refere-se a alguns pais, que levavam seus filhos pequenos à Parada Gay como se essa fosse "um programa de lazer como todos os outros". Logo depois crítica o depoimento de uma garota de 9 anos, frequentadora da Parada Gay desde os 5 anos que diz: " Lá você vê homem vestido de mulher e mulher vestida de homem. É normal. É legal." E para fechar com chave de ouro o seu show de preconceito, declara: " Os pais não sabem mais criar os filhos como antigamente. Qual será o futuro desse país? Esses crianças vão crescer achando que essa troca de sexo é normal, que ver homem com homem e mulher com mulher é tão normal que ver um casal aos beijos. E quem sabe, até, eles não queiram experimentar ou pior, adquirir essa pouca vergonha".

Na verdade eu não me surpreendi com tudo o que foi dito por esse locutor. Ele não é o único, muito menos o último a pensar assim. Eu também já achei bizarro esse lance de homossexualidade. E o argumento de todos que ainda pensam assim é o mesmo " Não é normal!". Mas, o que é normal? Quem impôs o que era normal ou não? Qual o padrão para se dizer se algo é anormal? E outra vez a resposta é sempre a mesma: " Porque Deus criou o homem para a mulher. Todo mundo pode ver". Tudo bem. Então, como é que se explica casos de homossexualidade entre animais? Porque, até onde eu sei, os animais também foram criados por Deus.

Existem várias especulações sobre o assunto. Atribuem o homossexualismo a distúrbios neurológicos, problemas no comportamento e por aqueles mais radicais, falta de vergonha na cara. Já li sobre estudos que atribuiram essa atração por pessoas do mesmo sexo a genética e/ou a influência do meio. Mas sabe, acho que a busca árdua e insistente por uma explicação que justifique o comportamento dessas pessoas podia abrir espaço para um pouco de respeito. E se precisar, um esforço maior para compreender. Talvez não seja fácil para alguns, talvez absurdo para outros, mas num ponto todos convergem: o amor, a felicidade e o respeito são direitos de cada um. Que não concorde, mas que ao menos respeite. O preconceito é a forma mais estúpida de dizer "eu não tenho capacidade para respeitar".

O homossexualismo pode ir contra a religião de muitos, contra os principios de vários outros, mas vai de encontro à lei do amor. Gadhi já dizia " O amor é a força mais abstrata e também a mais potente que há no mundo" - " Um covarde é incapaz de demonstrar amor, isso é privilégio dos corajosos".

domingo, 25 de maio de 2008


" Eu não sei o que quero ser, mas sei o que não quero me tornar" - Olga Benario.

sábado, 24 de maio de 2008

A Alegria de Sofrer.

Karen não conseguia entender. De repente sua vida transformara-se completamente. Sua alma estava mergulhada num sofrimento torturante, que lhe açoitava incansávelmente, dia e noite, como um eterno massacre. Fugia de seu controle a queda de suas lágrimas. Elas caiam, molhavam sua face, mostravam-lhe que aquela dor era permanente, constante, que negava-se a ir embora, que crescia a cada esforço de tirá-la do peito. Os dias passavam e Karen sentia que se tornava menor a cada instante. Imóvel no seu quarto, a vida passava perante seus olhos estáticos, mortos, com momentos fugazes de esperança. Esperança essa que insistia em mostrar-se presente ao mesmo tempo que mostrava-se inalcansável.



A vida prosseguia. A insensibilidade com que o tempo passava, como se nada houvesse acontecido, dava a Karen a certeza de que, a dor que lhe consumia ferozmente, lhe pressionava para levantar. Aquela dor na qual ela se perdera, mostrava-lhe a pequenez de sua força. Essa dor mostrava-lhe que estava presente e que sem luta, não poderia ser vencida. Decidida, Karen levantou-se daquele claustro que permanecera durante todo o tempo. Era preciso andar, algo dentro de si a desafiava para que contornasse aquela situação. Não perderia uma batalha para si mesma.



E não perdeu. Ninguém perde uma batalha para si mesmo, ao menos que esse seja o objetivo. A dor que nos consome muitas vezes existe para nos desafiar. A dor que maltrata nosso peito nos faz perceber que podemos ser maiores e mais fortes do que somos. Ela adentra nossa vida sem pedir licença e nos ensina, da forma mais dolorosa, a nos levantar. Ela nos faz crescer. A dor é uma mestra que não pergunta se queremos aprender, àlias, não nos dá chance alguma de escolher. Ela simplismente põe a nossa frente a lição mais complexa e nos pressiona, nos questiona, nos põe a prova de todos nossos sentimentos e limites. Mas a dor vai embora. Ela desaparesse no tempo depois de ter cumprido sua missão. Depois de ver que não há mais espaço em nossa vida, depois que nos levantamos e mostramos a si mesmo que somos capazes de suportar e enfrentar as tristezas mais profundas, as decepções, as reprovações mais torturantes. A dor vem pra ensinar. Nos tornar fortes. Maduros. A dor existe para nos fazer ver que a vida é de quem quer viver. E viver, aprender, crescer, amaducerer é uma alegria. Karen percebeu que essa é a alegria de sofrer.