terça-feira, 27 de maio de 2008

Amor e Respeito.

Eu estava voltando para casa no transporte escolar, cansada, observando as pessoas que andavam na rua. O rádio estava ligado, mas minha atenção não se dirigia à ele, até o locutor iniciar um assunto que, imediatamente, atraiu minha atenção completamente. Ele falava sobre a enorme quantidade de pessoas que vão hoje à Parada Gay. A intonação dele foi clara: era mais uma das pessoas que não admitia esse tipo de evento e que se revoltava por perceber o crescente público que a festa adquiria.

Momentos depois ele refere-se a alguns pais, que levavam seus filhos pequenos à Parada Gay como se essa fosse "um programa de lazer como todos os outros". Logo depois crítica o depoimento de uma garota de 9 anos, frequentadora da Parada Gay desde os 5 anos que diz: " Lá você vê homem vestido de mulher e mulher vestida de homem. É normal. É legal." E para fechar com chave de ouro o seu show de preconceito, declara: " Os pais não sabem mais criar os filhos como antigamente. Qual será o futuro desse país? Esses crianças vão crescer achando que essa troca de sexo é normal, que ver homem com homem e mulher com mulher é tão normal que ver um casal aos beijos. E quem sabe, até, eles não queiram experimentar ou pior, adquirir essa pouca vergonha".

Na verdade eu não me surpreendi com tudo o que foi dito por esse locutor. Ele não é o único, muito menos o último a pensar assim. Eu também já achei bizarro esse lance de homossexualidade. E o argumento de todos que ainda pensam assim é o mesmo " Não é normal!". Mas, o que é normal? Quem impôs o que era normal ou não? Qual o padrão para se dizer se algo é anormal? E outra vez a resposta é sempre a mesma: " Porque Deus criou o homem para a mulher. Todo mundo pode ver". Tudo bem. Então, como é que se explica casos de homossexualidade entre animais? Porque, até onde eu sei, os animais também foram criados por Deus.

Existem várias especulações sobre o assunto. Atribuem o homossexualismo a distúrbios neurológicos, problemas no comportamento e por aqueles mais radicais, falta de vergonha na cara. Já li sobre estudos que atribuiram essa atração por pessoas do mesmo sexo a genética e/ou a influência do meio. Mas sabe, acho que a busca árdua e insistente por uma explicação que justifique o comportamento dessas pessoas podia abrir espaço para um pouco de respeito. E se precisar, um esforço maior para compreender. Talvez não seja fácil para alguns, talvez absurdo para outros, mas num ponto todos convergem: o amor, a felicidade e o respeito são direitos de cada um. Que não concorde, mas que ao menos respeite. O preconceito é a forma mais estúpida de dizer "eu não tenho capacidade para respeitar".

O homossexualismo pode ir contra a religião de muitos, contra os principios de vários outros, mas vai de encontro à lei do amor. Gadhi já dizia " O amor é a força mais abstrata e também a mais potente que há no mundo" - " Um covarde é incapaz de demonstrar amor, isso é privilégio dos corajosos".

domingo, 25 de maio de 2008


" Eu não sei o que quero ser, mas sei o que não quero me tornar" - Olga Benario.

sábado, 24 de maio de 2008

A Alegria de Sofrer.

Karen não conseguia entender. De repente sua vida transformara-se completamente. Sua alma estava mergulhada num sofrimento torturante, que lhe açoitava incansávelmente, dia e noite, como um eterno massacre. Fugia de seu controle a queda de suas lágrimas. Elas caiam, molhavam sua face, mostravam-lhe que aquela dor era permanente, constante, que negava-se a ir embora, que crescia a cada esforço de tirá-la do peito. Os dias passavam e Karen sentia que se tornava menor a cada instante. Imóvel no seu quarto, a vida passava perante seus olhos estáticos, mortos, com momentos fugazes de esperança. Esperança essa que insistia em mostrar-se presente ao mesmo tempo que mostrava-se inalcansável.



A vida prosseguia. A insensibilidade com que o tempo passava, como se nada houvesse acontecido, dava a Karen a certeza de que, a dor que lhe consumia ferozmente, lhe pressionava para levantar. Aquela dor na qual ela se perdera, mostrava-lhe a pequenez de sua força. Essa dor mostrava-lhe que estava presente e que sem luta, não poderia ser vencida. Decidida, Karen levantou-se daquele claustro que permanecera durante todo o tempo. Era preciso andar, algo dentro de si a desafiava para que contornasse aquela situação. Não perderia uma batalha para si mesma.



E não perdeu. Ninguém perde uma batalha para si mesmo, ao menos que esse seja o objetivo. A dor que nos consome muitas vezes existe para nos desafiar. A dor que maltrata nosso peito nos faz perceber que podemos ser maiores e mais fortes do que somos. Ela adentra nossa vida sem pedir licença e nos ensina, da forma mais dolorosa, a nos levantar. Ela nos faz crescer. A dor é uma mestra que não pergunta se queremos aprender, àlias, não nos dá chance alguma de escolher. Ela simplismente põe a nossa frente a lição mais complexa e nos pressiona, nos questiona, nos põe a prova de todos nossos sentimentos e limites. Mas a dor vai embora. Ela desaparesse no tempo depois de ter cumprido sua missão. Depois de ver que não há mais espaço em nossa vida, depois que nos levantamos e mostramos a si mesmo que somos capazes de suportar e enfrentar as tristezas mais profundas, as decepções, as reprovações mais torturantes. A dor vem pra ensinar. Nos tornar fortes. Maduros. A dor existe para nos fazer ver que a vida é de quem quer viver. E viver, aprender, crescer, amaducerer é uma alegria. Karen percebeu que essa é a alegria de sofrer.