terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Pense.

[Eu escrevi o texto ontem, dia 31, mas o tempo só permitiu a postagem hoje, dia 1º. Mas espero que a mensagem consiga ser transmitida mesmo assim!]




Fim de ano significa recomeçar, acertar, planejar. O Natal chega e todo mundo resolve entrar no espírito de paz, de amor, de fraternidade. As pessoas entendem o que é perdoar, e melhor que isso, praticam o perdão. No Natal todos são iguais, todos merecem viver e não só existir. Nos últimos dias do ano surge uma energia positiva que envolve todos os corações, há uma esperança que desperta os sonhos mais impossíveis, aqueles planos mais utópicos, que aquece as almas mais congeladas pelo sofrimento. Nos últimos dias do ano não há tristeza que não consiga sorrir, nem fraqueza que não se sinta mais forte, porque nos últimos dias do ano as mágoas e as dores ficam no passado e virá novos 365 dias para tentar ser feliz outra vez. Nos últimos dias do ano tudo se torna possível, o mal se torna fraco e o bem se torna forte, a memória se torna recente e tudo que ficou pra trás já não interessa...

Mas por quê?!

É uma simples passagem de ano, uma contagem regressiva, uma volta completa da Terra em torno do Sol, a transição de um dia para outro e tudo continuará a mesma coisa. As pessoas serão as mesmas, o mundo será o mesmo, os problemas serão os mesmos e a vida continuará a mesma. Porque o fim do ano só acontece a cada 365 dias e nesse espaço de tempo a humanidade esquece de perdoar. Esquece de sonhar. Esquece de amar. E em um mês ninguém consegue recuperar o estrago de um ano inteiro. Hoje, 31 de dezembro de 2008, todos os brasileiros vão esquecer das barbáries cometidas no nosso país, esquecerão da incompetência dos nossos policias, que vitimaram muitos inocentes, esquecerão da monstruosidade de pais matando os próprios filhos, da curiosidade mórbida da população, do sensacionalismo e da falta de ética da mídia, esquecerão dos mais inúmeros casos de corrupção e falta de caráter daqueles que escolhemos para governar o nosso país, esquecerão dos crimes, assaltos, assassinatos, acidentes que aconteceram, longe ou perto de cada um, que foram expostos exaustivamente pela mídia ou simplesmente "não ocorreram" para o resto do Brasil. Hoje, o mundo vai esquecer das milhares de pessoas que morreram sem motivos, dos prisioneiros das FARC que esperam a liberdade, das crianças que esperam a vida e daqueles que já não saber mais esperar pela paz.


Tudo isso parece um discurso pessimista, talvez duro e insensível, uma vez que todos nós, depois de tantos dias e noites de luta, depois de tantas dores e quedas, depois de tantas perdas e lágrimas, temos direito ao sonho, à renovação, às alegrias e a esquecer dos problemas, mesmo que momentaneamente. Mas porque isso se restringe somente ao fim do ano? Ao começo do próximo? Dar para si a chance de se renovar deveria acontecer sempre que preciso, sonhar deveria ser um exercício diário e as dificuldades deveriam ser lições, aprendidas, e não um castigo prolongado e repetitivo. Perdoar, amar, querer ajudar, ter esperanças, lutar pelos ideais não deviam ser vontades afloradas em apenas uma época do ano, deveriam ser desejos arraigados na nossa alma e distribuídos ao mundo.

O respeito não pode ser esquecido. O amor, a alegria, a saúde e a dignidade não podem ser privilégios de alguns. O bem é contagioso, basta tê-lo em você e querer vê-lo no próximo. Há um mundo que espera por nós, que podemos agir mas ficamos parados. Há um mundo que já conjugou demais o verbo 'sonhar' e que agora precisa conjugar o verbo 'realizar'. Há um mundo com a mão estendida para nós, esperando pela chance de viver.

domingo, 7 de dezembro de 2008



"A Literatura é o retrato vivo da alma humana; é a presença do espírito na carne. Para quem, às vezes, se desespera, ela consola, mostrando que todo ser humano é igual, e que toda dor parece ser única;[...]

A moléstia é real, os sintomas são claros, a síndrome está completa: o homem continua cada vez mais incomunicável (porque deturpou o termo Comunicação), incompreendido, e /ou incompreensível, porque voltou-se para dentro e se auto-analisa continuamente, mas não troca com os outros estas experiências individuais; está "desaprendendo" a falar, usando somente o linguajar básico, essencial e os gestos. Não lê, não enriquece, não se transmite. Quem não lê, não escreve. Assim o homem do século XX, bicho de concha, criatura intransitiva, se enfurna dentro de si próprio, ilhando-se cada vez mais, minado pelas duas doenças de nosso tempo: individualismo e solidão."
[Ely Vieitez - Laboratório de Literatura, São Paulo - 1978]