sábado, 13 de setembro de 2008

"Ai de mim que sou romântica!"

"Ai de mim que sou romântica!". É a única coisa que consigo declarar agora. Último capítulo de novela é sempre assim, entro numa depressão pós final feliz do casal apaixonado que superou todos os obstáculos e enfrentou todos que estavam no caminho para viverem seu grande amor e claro, no final, conseguiram. Me pego com os olhos cheios de lágrimas na cena final, ao ver tanto amor transbordar num beijo ao som da música tema. Percebo meu coração se comprimindo cada vez mais por uma vontade incalculável de acreditar que tanto amor pode existir sim, tão verdadeiro quanto o diretor da trama aconselha que seja interpretado. Meus olhos fixados na televisão não significam que presto tanta atenção na história que apresenta seu desfecho, afinal, desde o primeiro capítulo já sabia que terminaria exatamente assim, mas demonstra que viajo no meu mundo particular e no meu insaciável sonho de viver um amor tão fantástico e com um final tão feliz. Mas aí o intervalo surge, a propaganda política aparece com os candidatos se atacando bestamente ao invés de expor suas propostas, como se me dissessem: "Larissa, acorda criatura, você não faz parte dessa novela!" e eu suspiro intimamente, mais uma vez, "ai de mim que sou romântica!".

Talvez seja até cômico porque, analisando bem, é tanto amor dentro de uma criatura só que chega a ser inexplicável. É como se eu amasse tudo, ou talvez não amasse nada, amasse somente o amor. Pode até ser patético, mas às vezes penso que amo alguém que nunca veio, que ainda não chegou e, sendo uma pessimista, talvez nem chegue. Mas não é assim que gosto de pensar. Prefiro achar que realmente amo tudo, mesmo que seja sem nenhum fundamento. Simplesmente amar cada sinal de vida, cada indício de amor... e pensando assim, entro novamente num suspiro, lamentando a minha sorte de ainda não saber o que me espera logo ali. Um amor de novela? Ou outro amor que também terminará? Ao som de uma música romântica meus pensamentos saem do meu domínio e fazem viagens por histórias que meu coração constrói e minha alma se embevece. Daí meu celular toca, me lembrando do remédio que preciso tomar. Infelizmente, tanto amor ainda não cura as crises que me acompanham. E novamente, volto a realidade, ainda desligada desse mundo que não condiz com o que transborda de mim... amor, tanto amor.

A novela acaba mas ficam comigo todas as ânsias de uma romântica. Vou olhar o céu e as estrelas, sonhar mais um pouco com o que nunca se saberá se virá. Enquanto tantas dúvidas povoam meus pensamentos e tanto amor faz brilhar meus olhos, percebo que esse sentimento não faz parte de mim, mas que eu faço parte dele. Como se ele fosse a minha pessoa e eu apenas um pequeno detalhe de tão grande e complexo universo sem explicação, sem lógica e sem fim. Sinto a maneira agradável com que esse sentimento me sufoca, fazendo-me amar o que não deveria ser amado, amar o que não mais merece meu amor, amar o que não existe, amar o que ainda vai existir. Acabo concluindo que meu mundo é mais agradável do que este em que vivo, onde o amor é um mero acaso do destino, uma sorte ou um azar, algo que pode te fazer sorrir e logo depois te maltratar. No meu mundo o amor é o protagonista, a base da verdade e da realização, é o tudo o que sou, tudo o que posso ser, tudo o que tenho a oferecer... talvez a coisa mais abstrata que exista e a mais concreta que posso dar a qualquer um.
Mas tudo é apenas um mundo de amor que se guarda dentro de um coração, que se mostra no brilho de um olhar sem rumo, que fala por um suspiro inocente.. "ai de mim que sou romântica!".

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Passado, união, força, Futuro.



Uma matéria sobre a Revolução de 1968 me deixou pensativa por um bom tempo. Cada linha escrita me dava um misto de encantamento, admiração e inveja. Sim, uma inveja saudável, uma vontade incrível de ter feito parte daquele tempo. Duas semanas depois da leitura ainda permaneço envolta na magia daquele 'ano que não terminou'.


Os jovens de 1968 não estavam satisfeitos com a sociedade em que viviam, com guerras, repressões, preconceitos. Um mundo de poucos e onde poucos tinham oportunidade de ser. Então eles simplesmente uniram suas forças e foram atrás dos seus ideais. Utopias deixaram de ser utopias e muitas se tornaram reais. As mulheres lutaram pela sua liberdade sexual, adquiriram respeito e importância na sociedade, os negros e os homossexuais também lutaram pelo seu espaço e conseguiram uma compreensão bem maior do que tinham. Uma onda de revolução e determinação varreu o mundo, fazendo com que todos mergulhassem e emergissem numa sociedade muito melhor para si e para os que viriam. Foi para isso que eles lutaram, saíram às ruas gritando por mudanças e direitos. Talvez não medissem a dimensão dos seus atos, a herança que deixariam para a história mundial, os ecos que suas vozes fariam durantes décadas. A verdade é que a perseverança com a qual buscaram seus sonhos determinou muitos dos privilégios que temos hoje e muitos dos quais não damos valor. Um exemplo é a liberdade de expressão. Há quarenta anos tê-la era magnífico! E hoje mal sabemos o poder que temos em nossa boca. Hoje temos também, além da liberdade de falar, a liberdade para agir e pensar como quisermos. Absolutamente normal, incontestável e irrevogável, né? É, mas eles também não podiam pensar e agir como bem entendessem e se o fizessem teriam que arcar com duras conseqüências. Devia ser extremamente ruim viver em um mundo ditatorial e opressor como esse, compreende-se a rebelião de tantos jovens em busca de um futuro. Mas além de todas essas heranças há uma implícita nesse contexto inusitado.


Há quarenta anos uma multidão saia às ruas com cartazes, armas, ou com a própria voz gritando pelos seus direitos, pelos seus sonhos, por um mundo melhor. Eles pensavam em si, é claro, mas olhavam adiante porque sabiam que aquelas atitudes imediatistas e rebeldes podiam transformar não só o presente, mas o futuro das próximas gerações. Eles tinham a força, se uniram e lutaram sem hesitar. Porque nós permanecemos tão apáticos a tudo que acontece ao nosso redor? Porque nos tornamos tão egoístas ao ponto de restringir a nossa força à realização dos nossos próprios sonhos? Porque ignoramos os problemas do mundo, que nos atingem diretamente, simplesmente por estarmos tão acomodados? Porque não somos capazes de renunciar em prol do outro? Porque eu estou sentando aqui, escrevendo para você sentado aí, ao invés de irmos fazer alguma coisa por aquela criança que vai passar mais uma noite na rua? Eu tenho minha comida garantida, minha cama quente me esperando, o aconchego do meu lar e o carinho da minha família. Mas há quem está catando comida no lixo, quem está se escondendo das balas perdidas. Eu tenho força e vontade de mudar o mundo e acredito que podemos mudá-lo, para mim, para todos e para os que virão. E você?





" Sonho que se sonha sozinho, é só um sonho. Sonho que se sonho junto, é realidade"