Pedro era um bem sucedido arquiteto de sonhos. Media, calculava, planeja e montava-os da maneira exata para se realizarem. Tinha em mente tudo o que era necessário para seu êxito, sabia de todos os ingredientes fundamentais para a concretização dos seus sonhos. Nunca, em sua enorme estrada de profissão, havia falhado em sonho algum, todos tinham tornado-se reais e a medida que isso acontecia Pedro media, calculava, planejava e montava outro sonho, sempre maior e mais complexo que o anterior, porque a cada realização sentia que seus sonhos precisavam acompanhar a sua ambição.
Pedro tinha uma casa tríplex num bairro nobre de São Paulo, tinha dois carros importados que trocava todo ano. Era diretor de uma multinacional, usufruía de enormes privilégios que esse cargo lhe concedia, do poder e influência que lhe proporcionavam, vivia com toda as comodidades e bonanças que um dia sonhou, e agora tinha. Estava sempre rodeado por muitas pessoas que se disponibilizavam dia e noite para atender as suas vontades, tinha contatos em todos os cantos do mundo, isso porque pode viajar para todos eles, se relacionar com os mais diversos estilos de gente e se sentir completo. Mas não se sentia. Pedro necessitava de mais um sonho, realizá-lo, provar outra vez o gosto do sucesso e do controle sobre sua vida. Ele era um arquiteto de sonhos.
Parou para pensar e decidiu que queria mais. Seu próximo projeto seria subir na empresa e alcançar o cargo mais alto da multinacional. Mediu, calculou, planejou e montou seu sonho. Tornar-se-ia o presidente da empresa e teria então, não mais metade do poder, mas o poder inteiro. Mediu aquele sonho como o ápice da sua ambição, calculou que levaria seis meses para realizá-lo, planejou o caminho até ele e montou a estrada que o levaria ao topo. Separou todos os ingredientes indispensáveis à concretização do sonho e guardou-os dentro de si. Eram doses generosas de egoísmo e ganância, umas pitadas de competitividade exagerada e trapaças espertas. Passados os seis meses lá estava ele, sendo empossado no cargo mais alto que poderia chegar. Mais um projeto milimétricamente construído, mais um êxito conquistado. Pedro já fazia coleção. Sentia então que tinha ao controle as rédeas da vida e que chegaria sempre mais longe. E no decorrer desse pensamento viu uma família passar na rua, mãe, pai e filhos. Percebeu que já tinha seus 30 anos e precisava casar, ter uma família. Lembrou da advogada mais competente e bela da empresa e decidiu que com ela se casaria, construiria seu sonho de núpcias, amaria e seria amado. Começou então a medir, calcular, planejar e montar seu mais novo projeto, não sentia medo nem ansiedade, a realização era tão certa que já podia imaginar seu casamento, sua lua-de-mel, seus filhos...
Mas não aconteceu. Passaram-se três, sete, onze meses e seu sonho não se concretizou. Pedro revisou seu projeto, revisou suas medidas e nada estava errado, tudo planejado e montado da forma exata para se realizar dentro de cinco meses. O que havia acontecido?! Paula simplesmente ignorava suas investidas, recusava suas flores e seus convites, tratava-o como um qualquer, sem perceber que ele possuía o cargo mais alto daquele lugar, que ele mandava em tudo e em todos, fazia e desfazia a qualquer hora e a seu gosto. Meses depois Paula estava noiva de outro e Pedro, sem querer acreditar, muito menos aceitar, havia tido seu primeiro fracasso. Fracassara nas medidas, o sonho saíra grande demais, fracassara no amor. E amava.
Agora Pedro olhava ao redor e não via mais importância naquele mundo de sonhos reais. A vida prevalecera pela primeira vez e isso era tão insuportável quanto a certeza de amar e não ser amado e a tristeza de só possuir o seu amor. Como podia sentimento tão pujante diminuir-lhe a um mero pedaço de carne que agora só vivia a espera da morte, logo ele, que já teve tudo o que sonhou... e eles, um por um, lenta e gradativamente, iam desmoronando, mostrando a Pedro uma verdade tão nítida que o cegou: nenhum sonho tinha bases concretas para suportar a força da vida. Passara por cima de muitos para chegar onde chegou e agora a vida passava por cima de si. De comandante transformara-se em comandado e a ordem era sofrer.
Já não media, não calculava, não montava sonho algum. Todos os antigos projetos foram embora como a alegria da dor, sua capacidade de sonhar dissolveu-se como açúcar na água... açúcar que não lhe adocicava mais a vida, água que não lhe refrescava mais a alma. Pedro era o silêncio das palavras, o amargo da solidão, o filho do fracasso.
Mas o que ele ainda não sabia é que era amante da esperança. Que por ser filho do fracasso ele tinha em si a chama fumegante do desejo de transformar-se. Ele imaginava o dia em que seria, não como antes, mas como nunca havia sido, uma pessoa feliz. E assim, por ter no seu fracasso o desejo imensurável de sucesso, ele já sonhava com o recomeço.